É lindo testemunhar uma região valorizando e aprimorando a sua cultura gastronômica. Um banquete de projetos de cunho alimentar brotam no primeiro planalto paranaense: produtores de cerveja, queijos, embutidos, conservas, etc. valorizando o que o clima e terroir tem para oferecer. Expresso na diversidade de paisagens que contemplam desde a Mata Atlântica a beira da Serra do Mar até as suaves colinas tomadas de Araucárias próximas aos campos gerais. E é nesse cenário que algumas vinícolas em Curitiba estão ganhando destaque!
Terroir: palavra francesa sem tradução, mas que significa a relação entre o solo e o clima que irá conceber um determinado tipo de uva, expressando sua qualidade e identidade em um grande vinho – Fonte: Revista Adega.
Hoje podemos preparar o menu completo de um jantar com alimentos e bebidas produzidos em Curitiba e seu entorno. E acompanhar cada passo da refeição com um vinho diferente, finalizando com um leque de opções de espumantes para o brinde. Bebidas com qualidade impensada há dez anos atrás, quando começavam a engatinhar os primeiros projetos dedicados a produção de vinhos finos na região metropolitana de Curitiba.
Até então, a maioria do vinho produzido na região era o popular vinho colonial, feito a partir de uvas de mesa. E as pouquíssimas vinícolas em Curitiba que se dedicavam a elaboração de vinhos finos o faziam com uvas dos estados vizinhos da região Sul do Brasil. De 2006 para cá, produtores começaram a plantar uvas viníferas num microclima considerado tão desafiador, para não dizer difícil, para o cultivo de uvas viníferas. O excesso de umidade e chuva somado aos frequentes dias nublados pode não ser considerado o ideal para viticultura.
De fato Curitiba não tem, e está longe de ter, um clima seco e ensolarado que as viníferas tanto gostam, como em Mendoza e no Vale do Maipo. O que é um desafio para as vinícolas em Curitiba. Mas isso não significa que o cultivo de uvas europeias na região seja impossível! Apesar dos projetos serem todos muito novos, os resultados preliminares são surpreendentes. Vinhos com qualidade, estilo definido e potencial de guarda.
Se a primeira incerteza na fundação deste projeto foi se a região teria condições de nos brindar uvas sadias e maduras – o que se comprovou – a segunda era se o vinho feito a partir delas aguentaria o passo do tempo. E para nosso deleite eles têm envelhecido bem. Vinhos com cinco, seis anos de idade estão em plena qualidade e ainda vislumbram mais tempo de vida na garrafa. Outro sinal muito positivo.
Não se pode ser conclusivo ainda sobre as melhores uvas e terrenos da região, mas com base em alguns exemplos bem sucedidos de vinícolas em Curitiba, já podemos fazer um esboço do panorama atual dos vinhos finos dos arredores da capital paranaense. E ele é muito animador:
Vinícolas em Curitiba que você precisa conhecer
Iniciada em 2007, a vinícola conta com 5 hectares de vinhedos plantados a cerca de 980 metros de altitude em São José dos Pinhais, próximos a Serra do Mar. A Chardonnay, em franca expansão, predomina os vinhedos e é a uva base de dois espumantes feitos pelo método champenoise – brut e demi sec – e um vinho branco fresco bastante floral com ligeira nota de caramelo. Estes vinhos vem temperados com uma discreta proporção de Viognier e Pinot Noir.
Além destas castas, a Cabernet Franc tem sido bastante produtiva na região e dá origem ao vinho tinto recém-lançado. Destaca-se pelo aroma, frescor e o toque picante típico da variedade. A coleção é completada por mais três tintos das uvas Cabernet Sauvignon e Merlot de produtor parceiro em Campo Largo.
Os tintos da linha Angustifólia, cuja safra vigente é de 2010 impressionam pela vivacidade e fluidez no paladar, com toque de carvalho aparente, mas na medida. As produções são limitadas e tem o conceito de homenagear a cultura do estado em seus rótulos estampados por murais do artista plástico Poty Lazarotto e símbolos da natureza paranaense, como a árvore Araucária e ave que a semeia, a Gralha Azul.
Dica! Você pode conhecer a Vinícola Araucária durante um passeio privativo da Special Paraná. Você irá visitar os vinhedos e espaços de produção, além de degustar os deliciosos vinhos finos dessa vinícola! Esse passeio ser feito de sexta à domingo, mas é preciso fazer a sua reserva com antecedência.
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Vinícola Legado
Localizado em Bateias, zona rural de Campo Largo, possui cerca de 10 hectares de vinhedos implantados em 2006 a 1040 metros de altitude nos pés da Serra de São Luiz do Purunã. São cinco variedades de uvas europeias, lideradas pela branca Viognier e a tinta Merlot. Cabernet Sauvignon, Pinot Noir e a pouco conhecida variedade italiana Fiano, completam os vinhedos. A amplitude térmica durante a época de maturação tem sido um dos principais aliados da uva, produzindo frutos com bom equilíbrio entre açúcar e acidez.
Além do curioso vinho branco de Fiano, com aromas que remetem a erva-mate, a Legado acaba de engarrafar um fresquíssimo Viognier, uva que se adaptou muito bem e é usada na base de um dos seus espumantes, com ótima acidez, cremosidade e um sabor que lembra a damasco. A Pinot Noir têm sido a grande surpresa e revela-se em um tinto bastante fresco, frutado e fácil de tomar. Completam a adega um espumante rosado de Merlot e um tinto jovem de Cabernet Sauvignon e Merlot. A vinícola está preparando um tinto estilo Amarone – onde as uvas são parcialmente desidratadas antes da fermentação – com envelhecimento em carvalho novo, sem previsão de lançamento.
Autor: Wagner Gabardo
Wagner Gabardo é mestrando em Turismo pela UFPR, Brasil e Sommelier Profissional pelo CAVE, Argentina. É proprietário da escola Alta Gama onde oferece cursos e experiências vínicas e gastronômicas. Também escreve artigos para revistas de vinhos no Brasil e em Portugal. Mais detalhes sobre seu trabalho em altagama.net.br